A parede branca,amarela,branca,amarela,o sofá,a TV,computador,o radio.É cinza,é cinza,é parado,silencioso.Tudo desligado.
O menino,olhos abertos,deitado no chão,fazendo do teto branco o seu reflexo.A sensação de ser a mistura de tudo,mas aparentando ser nada.Sem graça,sem vida,aparentando na verdade o não ser.
Zero,a marca é o zero.O zero,ponto inicial,sua vida está no inicio,o menino se sente pronto para viver,pronto para acontecer,porém não vive,porém não acontece.E dentro desta casa nada pode o surpreender,pois só lhe resta o eco,que é apenas a repetição,a confirmação do nada.
O menino olha curiosamente cada parte do comôdo,esperando a surpresa.Mas nada acontece,a não ser a agonia.O pobre garoto agora parece descobrir que não sente,não ri,não chora,não tem ódio,não tem amor e nem história.Já pensou no amor,no perdão,na justiça,na politica,na alma.Mas só pensou,sua pobre alma,não chora.
Ele pensou em Platão,imaginou o filósofo discorrendo sobre tudo que acredita.A Alma,o menino refletiu sobre a alma,que segundo Platão são três: a alma racional,a alma do impétuo,a alma do apetite.Razão,emoção,impulso.
Mas o menino não entende o porquê de sua alma não ser viva,o pobre não sabe que dentro daquele quadrado em que se encontra,a razão,a emoção,o impulso não podem ser exercidos.Então de repente gritou:
----- AAAAAAAAAAAAAAAAAH!
E logo em seguida ouviu um barulho...Era o trovão.O menino viu que essa era sua hora,sua oportunidade de fazer com que algo aconteça,calçou o ténis vermelho,pegou seu guarda-chuva preto e saiu correndo pela rua vazia,calma,cheia de árvores cheias de folhas,respirando,vivendo.Já chovia e o menino sentia que alguma coisa estava acontecendo,algo estava se transformando.A chuva forte caindo e constante confronto com o vento.
Em seguida o vento levou seu guarda-chuva tão rapidamente que o menino sorriu.Aí o mundo girou;girou no momento em que água começou a invadir seu corpo e passar por cada parte.Foi ali que o menino foi surpreendido com a alegria de saber que estava vivendo.
A tempestade forte,rigorosa,agitada,mudou sua vida,o fez sentir.O menino sorria,chorava,sorria,chorava,girava,sorria,chorava e cai no asfalto.E se sentiu satisfeito,e se sentiu belo,e o melhor:sentiu seu coração bater,o que não sentia a muito tempo.
Por fim,o menino sentou na calçada,as lágrimas se misturavam com a chuva e o sorriso com os trovões.O menino agradeceu e deu viva a tempestade inúmeras vezes.Viva,viva,viva.Viva o menino e a tempestade.